Por:
Keuly Valois
25 de abril de 2020
Nessa entrevista a arquiteta e mestra em Gestão Ambiental, Luciana Raposo fala sobre os diversos fatores que deixam um ambiente doente e têm impacto direto na saúde das pessoas.
Hoje em dia, muitas doenças ou distúrbios são causados pelo ambiente em que as pessoas vivem ou trabalham?
Atualmente 90% da população brasileira vive em centros urbanos. As cidades contemporâneas e seus edifícios foram construídas para atender o déficit habitacional, oferecer infraestrutura básica e serviços e possibilitar o deslocamento das pessoas, sobretudo, de automóvel. Ocorre que o crescimento populacional foi mais rápido do que as soluções de políticas urbanas eficientes e os impactos ao meio ambiente e a saúde humana. Este cenário contribui para o que a Organização Mundial de Saúde chamou de Síndrome do Edifício Enfermo – SEE, que se refere mais especificamente a ausência de salubridade nos espaços construídos destas cidades que adoecem seus habitantes. No Brasil, 36% dos lares não têm coleta de esgoto, mostra o IBGE. Isso tem levado cerca de 600 crianças a óbito por mês. A ausência de abastecimento de água e tratamento de esgoto também contamina os recursos hídricos. O aumento do consumo desenfreado e a alta geração de resíduos contamina o solo e traz doenças através dos vetores presentes no lixo. O ar está mais poluído do que nunca, exceto pela situação atual do Coronavírus que - momentaneamente – diminuiu a poluição atmosférica em até 50%. Quando as atividades voltarem, a poluição vem junto e, talvez, até pior. É por isso que entender a casa do homem como um elemento isolado da sociedade e seus processos não faz muito sentido. Cada microcosmo reflete uma realidade mais ampla. Os edifícios estão doentes. O planeta também está. Todo o lixo e poluição que vemos nas ruas espelha de alguma forma o desequilíbrio que há em cada cidade, em cada residência ou ambiente de trabalho.
Existem vários estudos realizados por cientistas da área de saúde que apontam doenças e distúrbios ocasionados pelo edifício. Muitas pessoas não conseguem dormir bem pelo excesso de estímulos a partir das conexões eletromagnéticas e excesso de eletros no quarto. Muitas sofrem de insônia, sonambulismo, bruxismo, tensão nos dedos, na coluna e por aí vai. A doutora Sigrid Flade, médica e pesquisadora alemã, em seu livro sobre Tratamento Alternativo de Doenças, relata o seguinte: “Exposição a radiações e campos magnéticos podem prejudicar os processos bioquímicos e energéticos das células de nosso corpo como as do sistema imunológico, além do endócrino e hormonal. A consequência é o surgimento de moléstias inicialmente leve, atribuídas ao estresse, ao clima ou a outras condições de vida. Em efeito prolongado podem gerar reumatismo, asma, úlceras estomacais, hipertensão, arritmia, infarto do miocárdio, leucemia e câncer”.
Existem iniciativas isoladas, mas cada vez mais as pessoas que buscam este viés estão conseguindo se articular pra ganhar voz e fazer algo realmente diferente. Em escala urbana existe o conceito de Município Saudável que é bem abrangente, para os edifícios a abordagem é realizada apenas por uma pequena gama de profissionais que busca capacitação na área. Isso após a graduação porque no curso de Arquitetura, o tema ou não é abordado ou é muito superficial. Em 15 anos de escritório prestamos consultorias e realizamos projetos para um público específico, mas eu queria muito que fosse mais abrangente, que toda sociedade se conscientizasse da importância e do direito de morar bem. Talvez assim, possam cobrar dos governos um maior comprometimento com a saúde do habitat como estratégia de políticas urbanas e de saúde pública. Em relação ao mercado, basta sinalizar que ele atende. Por efeito ou marketing, acredito que em breve os novos edifícios vão ser vendidos como saudáveis da mesma forma como está acontecendo com as construções ditas sustentáveis.
Como a pessoa que vai comprar um imóvel vai saber que é uma construção
saudável?
Keuly Valois
25 de abril de 2020
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Luciana Raposo |
Nessa entrevista a arquiteta e mestra em Gestão Ambiental, Luciana Raposo fala sobre os diversos fatores que deixam um ambiente doente e têm impacto direto na saúde das pessoas.
Hoje em dia, muitas doenças ou distúrbios são causados pelo ambiente em que as pessoas vivem ou trabalham?
Atualmente 90% da população brasileira vive em centros urbanos. As cidades contemporâneas e seus edifícios foram construídas para atender o déficit habitacional, oferecer infraestrutura básica e serviços e possibilitar o deslocamento das pessoas, sobretudo, de automóvel. Ocorre que o crescimento populacional foi mais rápido do que as soluções de políticas urbanas eficientes e os impactos ao meio ambiente e a saúde humana. Este cenário contribui para o que a Organização Mundial de Saúde chamou de Síndrome do Edifício Enfermo – SEE, que se refere mais especificamente a ausência de salubridade nos espaços construídos destas cidades que adoecem seus habitantes. No Brasil, 36% dos lares não têm coleta de esgoto, mostra o IBGE. Isso tem levado cerca de 600 crianças a óbito por mês. A ausência de abastecimento de água e tratamento de esgoto também contamina os recursos hídricos. O aumento do consumo desenfreado e a alta geração de resíduos contamina o solo e traz doenças através dos vetores presentes no lixo. O ar está mais poluído do que nunca, exceto pela situação atual do Coronavírus que - momentaneamente – diminuiu a poluição atmosférica em até 50%. Quando as atividades voltarem, a poluição vem junto e, talvez, até pior. É por isso que entender a casa do homem como um elemento isolado da sociedade e seus processos não faz muito sentido. Cada microcosmo reflete uma realidade mais ampla. Os edifícios estão doentes. O planeta também está. Todo o lixo e poluição que vemos nas ruas espelha de alguma forma o desequilíbrio que há em cada cidade, em cada residência ou ambiente de trabalho.
O que mais pode nos deixar doentes no ambiente em que moramos ou trabalhamos?
Níveis alterados da qualidade do ar, como alto índice de compostos orgânicos voláteis. Contaminação eletromagnética e elétricas a partir de eletrônicos em excesso, vazamentos de correntes, materiais de construção, produtos de limpeza, iluminação inadequada (tanto artificial quanto ausência da natural), mobiliário com medidas impróprios a ergonomia humana, altos níveis de ruído, entre outros.
O ar viciado dos grandes centros comerciais está repleto de
toxidade. O excesso de luz artificial e estímulos provoca fadiga ocular e
mental. Uso abusivo de concreto, granito e materiais sintéticos ocasionam
contaminações eletromagnéticas e elétricas. Ausência de vegetação natural piora
ainda mais a qualidade do ar e os produtos sintéticos liberam compostos
orgânicos voláteis.
No âmbito do edifício de moradia também são vários os
fatores de risco. Além dos aspectos presentes em ambientes fechados, existe um
mais subjetivo que parte do espaço enquanto ambiente psicológico de longa
permanência (onde se dorme / descansa) que dialoga com os usuários o tempo todo
através do layout, energia dos objetos, das cores etc. Todo esse universo está se manifestando aqui e agora. Está
acontecendo dentro de nossas casas e locais de trabalho sem que a gente se dê
conta. Esses efeitos, a longo prazo, podem não só nos deixar mais estressados
como desenvolver doenças mais serias.
Quais são as doenças que os ambientes com problemas podem causar nos moradores?
Existem vários estudos realizados por cientistas da área de saúde que apontam doenças e distúrbios ocasionados pelo edifício. Muitas pessoas não conseguem dormir bem pelo excesso de estímulos a partir das conexões eletromagnéticas e excesso de eletros no quarto. Muitas sofrem de insônia, sonambulismo, bruxismo, tensão nos dedos, na coluna e por aí vai. A doutora Sigrid Flade, médica e pesquisadora alemã, em seu livro sobre Tratamento Alternativo de Doenças, relata o seguinte: “Exposição a radiações e campos magnéticos podem prejudicar os processos bioquímicos e energéticos das células de nosso corpo como as do sistema imunológico, além do endócrino e hormonal. A consequência é o surgimento de moléstias inicialmente leve, atribuídas ao estresse, ao clima ou a outras condições de vida. Em efeito prolongado podem gerar reumatismo, asma, úlceras estomacais, hipertensão, arritmia, infarto do miocárdio, leucemia e câncer”.
Como evitar e curar esses males na casa ou ambiente de trabalho?
O mais importante seria observar estes aspectos antes de projetar e construir, mas uma vez que a habitação já exista e apresente sintomas através de seus moradores, alguns cuidados podem ser tomados. Quando for escolher um lugar pra morar, observe se não existem redes de alta tensão passando por perto, assim como aeroportos, zonas industriais, avenidas muito movimentadas, ambientes internos sem ventilação, paredes com mofo e patologias na construção. Observe também se existem boas vedações nas janelas e portas, se as instalações elétricas estão seguras e se os materiais de construção são mais naturais com mais fibras vegetais e menos sintéticos como plásticos e derivados de petróleo. Em casa, é recomendado priorizar o local em que se dorme, sobretudo. A cama é preferível que não seja metálica para evitar condução de correntes eletromagnéticas. Não se deve ter tomadas muito perto de onde a cabeça descansa nem equipamentos elétricos ligados a noite, nem mesmo em stand by. No escritório deve-se buscar uma postura correta e mobiliário em dimensões adequadas ao usuário. As telas de computador podem estar perto de janelas, mas com cortinas pra regular a luz do sol. Ar condicionados devem estar em perfeita limpeza e manutenção. Iluminação artificial deve ser adequada com lâmpadas regulares, sem estar piscando.
As plantas contribuem para termos uma casa saudável?
Sim. Plantas em casa são um resgate do homem com sua própria natureza. Algumas específicas podem ser tóxicas, mas as domésticas que usualmente cultivamos ajudam na melhoria psicológica do ambiente como também purificam o ar. Após 20 anos de investigações, a NASA publicou os resultados sobre o efeito descontaminante e purificador de algumas plantas mais comuns que exercem em ambientes fechados. Experiências mostram que a Aloe Vera (babosa) pode eliminar em 24 horas 90% de formaldeídos de uma habitação; como a Margarida que reduziu em 80% o Benzeno; e Açucena que limpou o ar de um ambiente em 50% dos efeitos de tricoroetileno. Outras plantas comuns que purificam o ar são o crisântemo, filodrendo, gérbera, lírio, jibóia, e espada de São Jorge.
Existe algum método pra identificar a energia do espaço, que avalia como o
ambiente no qual a casa ou escritório está localizado pode afetar a saúde de
quem ali vive ou trabalha?
Sim, existem vários. As antigas civilizações costumavam
analisar o lugar ideal para estabelecer a construção de suas aldeias e povoados
através da observação da natureza. Os antigos chineses não construíam seus
abrigos nos locais de falhas geológicas, que chamavam de “veias do dragão”. Os
romanos faziam rebanhos pastarem em sítios por longos períodos e depois
dessecavam os animais para observar a saúde de seus órgãos e decidir pela
ocupação ou não. Os índios norte-americanos deixavam seus cavalos pastarem
livremente e escolhiam seus lugares preferidos para ocupar porque sabiam que o
animal era um “termômetro” da energia do
lugar. Com o passar dos tempos, métodos mais precisos foram
desenvolvidos. A partir da década de 1970,
especialmente em países europeus, o cuidado das habitações, á luz da saúde
integral foi sendo, aos poucos, resgatado. Nesta época, a Geobiologia surgiu
como uma das correntes de reação ao conceito de “máquina de morar” proferido
pela arquitetura modernista da época. Partiu de estudos realizados por médicos alemães
e encontrou em arquitetos, biólogos, cientistas e profissionais ligados a
qualidade de vida, seus maiores aprofundamentos em vários outros países. Atualmente, a Geobiologia lança mão de recursos diversos para
diagnosticar a saúde de um lugar. Existem os mais simples, como pêndulos e
varetas, bem como instrumentos de medição mais precisos que detectam e
quantificam um grande número de parâmetros e energias neste mar de radiações
que vivemos. Entre os mais usuais estão os seguintes: Contadores Geiger
(detecta nível de radiatividade de ambientes e materiais de construção); Kombi-test
(identifica fonte de contaminação eletromagnética e elétrica); Magnetômetros (revelam anomalias magnéticas) ; Medidores de
ionização, higrômetro (mede a umidade do ar); e sonômetro (mede os
níveis de ruídos).
O Feng Shui é outro recurso importante para quem quer construir ou reformar?
Sim, eu acho importante lançar mão dos saberes dos povos antigos. De todo modo, como não se conhece muito bem esta ciência eu prefiro aplicar sem levantar a bandeira “zen”. Apenas observo no ambiente como os moradores podem se sentir em paz e seguros e ponho em prática no projeto. Estes ensinamento são corroborados por estudos contemporâneos nas áreas de psicologia do espaço, neurociência aplicada a arquitetura, Gestalt e comportamento. No caso de quem me contrata para a consultoria de Feng Shui, um estudo muito mais especifico é realizado, o qual inclui o elemento de cada morador a partir de métodos baseados na Forma (Bahzai) e na astrologia (9 estrelas voadoras).
Isso ajuda muito porque ilustra muito claramente no projeto a presença dos elementos da natureza em equilíbrio com a casa e com os seus moradores.
Construções sustentáveis e Bioconstruções são conceitos diferentes? Qual a
diferença entre um e outro?
São conceitos diferentes sim. Na verdade as mídias estão
criando novos conceitos a cada dia e alguns deles são praticamente sinônimos. Bioconstrução é
uma forma de construir baseado nos processos da natureza, prioriza a relação
ecológica entre homem e edifício. Usa materiais e formas mais naturais. Enquanto
a Construção Sustentável considera o
aspecto ambiental, mas não se prende a formas nem abre mão de alta tecnologia.
Pra ser sustentável, além de baixo impacto ambiental precisa ter compromisso
social e ser viável economicamente. Por isso este conceito é mais complexo.
A Construção Saudável aborda que tipo de
questões?
Construção Saudável
é um termo utilizado, geralmente, em referência a Geobiologia. Aborda todas as questões que citei nas respostas
acima. A diferença de Construção Saudável para Construção Sustentável é que a primeira foca nos aspectos que afetam diretamente o bem
estar do homem, enquanto a segunda foca no processo, no meio ambiente, no
social e na economia através de um tripé de valores.
Você
acredita que perdemos qualidade de vida com a evolução tecnológica?
No geral acho que ganhamos muito mais do que perdemos. Vidas
foram salvas por tecnologia e ciência a serviço das pessoas, mas a forma como
temos utilizado estes recursos nos levou a outros cenários que comprometem
nossa qualidade de vida. Não é a tecnologia que é o problema, é a forma de
utilização dela o que tem a ver com educação e comportamento. As pessoas falam muito em soluções tecnológicas como se elas
sozinhas fossem resolver o tudo. Se fosse assim não haveria mais tanta fome e
doenças no mundo. Creio que a tecnologia é uma ferramenta de gestão. Se as
políticas forem bem direcionadas, a tecnologia poderá contribuir mais
efetivamente com resultados voltados a melhoria da qualidade de vida das
pessoas.
Você acha que houve uma banalização da arquitetura modernista e que isso contribuiu para uma casa
doente?
O que se faz hoje em termos de habitação não é modernismo. Apesar
de ter algumas críticas, o movimento modernista na arquitetura foi brilhante
naquela época da primeira metade do século XX. Trouxe soluções práticas para as
necessidades e limitações da sociedade, mas depois disso o conceito não se
reinventou como poderia, ficando estagnado sem conseguir atender as novas
demandas contemporâneas por cidades e edifícios confortáveis que fossem ao
mesmo tempo acessíveis do ponto de vista
socioeconômico. O problema não está exatamente na arquitetura enquanto
resultado de reflexões dos profissionais da época, mas de um mercado que regula
e dita as formas de habitar, viver e consumir. O que estamos vendo nas cidades
brasileiras hoje é o reflexo de um sistema capitalista que prioriza os espaços privados e comerciais em vez do público e coletivo, que condiciona a classe
média a viver em condomínios fechados para ter “segurança” enquanto as
comunidades não tem direito a condições mínimas de habitação e salubridade. Por isso digo que além de não serem mais modernista (porque estão
fora do recorte de tempo e espeço), as cidades e edifícios, salvo poucos
exemplos, também não são arquitetura. Isso
porque não refletem as necessidades das pessoas, mas sim do mercado e da
especulação imobiliária. O que importa hoje é o máximo lucro e não o bem estar
comum. Esse é o legado de um sistema socioeconômico em colapso que, agora neste
caos que estamos vivendo, vem sendo questionado enquanto outros valores de
sociedade são resgatados.
Casas mais saudáveis, que não agridem ao meio ambiente, que
são acessíveis às pessoas, que partem do princípio da coletividade desde a sua
construção, que integra os habitantes entre si, que tem espaço pra pisar no
chão e plantar seus alimentos, que permitem ir a pé ou de bicicleta até serviços
básicos, que aproveitam melhor a luz e o vento... Esse tipo de morada se tornou
luxo na sociedade contemporânea, mas deveria ser direito de todos.
Mas
dá pra corrigir?
Dá! Pra isso é preciso mudar o sistema como um todo.
Proporcionar arquitetura saudável pra uma restrita e privilegiada classe da
sociedade não vai resolver a questão.
Você acredita que estamos vivendo um momento de transição, em que a preocupação
com resíduos e água já faz parte do ato de construir uma habitação? Ou isso
ainda acontece muito pouco?
Transição sim, mas muito lenta ao meu ver. Em 2001 eu projetei
uma Pousada Ecológica no trabalho final da graduação em arquitetura. Considerei
várias alternativas para uma arquitetura saudável e sustentável. Eu achava que
em pouco tempo o trabalho estaria obsoleto, mas em duas décadas continua sendo
uma inovação. Pouco foi posto em prática.
Finalmente
haverá algo a ser feito, ou está sendo feito,
para que um cuidado maior aconteça com relação à saúde do usuário final, o morador, quando pensarem em construir um imóvel?
Existem iniciativas isoladas, mas cada vez mais as pessoas que buscam este viés estão conseguindo se articular pra ganhar voz e fazer algo realmente diferente. Em escala urbana existe o conceito de Município Saudável que é bem abrangente, para os edifícios a abordagem é realizada apenas por uma pequena gama de profissionais que busca capacitação na área. Isso após a graduação porque no curso de Arquitetura, o tema ou não é abordado ou é muito superficial. Em 15 anos de escritório prestamos consultorias e realizamos projetos para um público específico, mas eu queria muito que fosse mais abrangente, que toda sociedade se conscientizasse da importância e do direito de morar bem. Talvez assim, possam cobrar dos governos um maior comprometimento com a saúde do habitat como estratégia de políticas urbanas e de saúde pública. Em relação ao mercado, basta sinalizar que ele atende. Por efeito ou marketing, acredito que em breve os novos edifícios vão ser vendidos como saudáveis da mesma forma como está acontecendo com as construções ditas sustentáveis.
Por si só, não vai saber. Não em nível profundo porque os
efeitos só são percebidos a médio / longo prazo. Num nível básico, contudo é
mais fácil porque o sentimento e a intuição também conta muito. A maioria dos meus
clientes me pedem uma casa bem iluminada e ventilada naturalmente.
Todos gostam de áreas de convívio e de descanso com vista
para natureza. A maioria que escolhe as
ruas mais agitadas é por conta da comodidade e proximidade de serviços e
comercio, mas reconhecem o excesso de barulho como prejudicial, assim como o
desconforto térmico no caso dos apartamentos mal orientados e com poucas
aberturas. Por isso a importância de contratar um profissional
especializado ainda na fase de escolha e analise da planta baixa e do entorno
ou optar por um edifício certificado por uma organização confiável.
Existe algum selo que classifique esses projetos e reformas como saudáveis?
Para arquitetura sustentável existem vários, tais como o LEED, AQUA, Selo Azul da CAIXA e BREAM. Voltado a Arquitetura Saudável, existe o
recente Casa Saudável, certificado pelo Healthy
Buildynd . Este é voltado a prática da Geobiologia e é o qual eu estou
estudando no momento.
Pode ser que esses imóveis saiam um pouco mais caro?
Sim e Não. Existem
materiais que são mais baratos mas deviam ser proibidos no planeta, como o PVC
e outros sintéticos. Como o lobby destes materiais é muito forte, nenhuma
entidade os regula e eles continuam sendo comercializados em larga escala por
isso saem mais barato para o cliente final.
Em contrapartida, o que era pra ser mais barato, como bambu,
tijolo de terra crua e ouros ditos alternativos, continuam sendo fabricados
artesanalmente estando pouco competitivos no mercado. Pouca demanda, pouco
escala, altos preços. É a lei do nosso sistema capitalista!
Na sua opinião, o que podemos fazer para mudar isso?
O fato é que, assim como os alimentos envenenados que nos
são ofertados e estão aprovados pela agência que deveria regulá-los, os materiais
que a gente leva para os nossos lares estão cobertos de toxidades. E não é o fabricante que vai te dizer isso,
sabe... Nem adianta procurar no rótulo nem no site do fornecedor! Esse
conhecimento tem que partir da sociedade para que se possa, então, cobrar dos
órgãos reguladores e dos fabricantes mais transparência e comprometimento com a
saúde das pessoas. Sem esse movimento da sociedade, dificilmente este cenário
vai mudar tão cedo. Não dá mais pra negligenciar as mudanças
que precisamos fazer em nossas casas e em nossos hábitos e não se sabe o que
vem por aí... Na dúvida, cuidemos do nosso templo maior na Terra, que é o corpo
físico, e do templo que habitamos, a nossa casa!
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